Algum tempo atrás encontramos a  Vanessa.

Estávamos, Eliana e eu, no final de um retiro presencial para casais e famílias. Ela se aproximou com sua filhinha nos braços e, muito emocionada, nos abraçou num abraço sem fim, e sinalizou que estava muito perturbada e sofrida; agradeceu-nos dizendo: “obrigado pelo testemunho de vocês; é muito forte o que vocês passam pra gente, é lindo amor que a gente percebe em vocês.”

Então, eu entendi que a Vanessa estava sozinha e perguntei de onde ela era e  como ela estava. Disse-nos que estava numa luta, que seu marido, após 10 anos de casamento, havia dito que não a amava mais, que tinha uma outra pessoa, e isso aconteceu exatamente quando a Vanessa estava grávida de 8 meses do bebezinho que ela trazia no colo.

As palavras da Vanessa eram repletas de um sentimento muito forte, muito angustiado, difícil de a gente descrever, pois ela nos fazia entender que era uma coisa completamente inadmissível da parte de seu marido, isto é, um homem bom, amoroso, dedicado à família e trabalhador que, de repente se mostrou frio, traidor, calculista e decidido. Hoje ele vive numa outra cidade  e afirma que simplesmente o amor havia acabado,  e deixou sua mulher e a filhinha que ainda iria nascer.

Nesses momentos não existe muito que dizer e é preciso se aproximar de uma pessoa  como a Vanessa e estender a mão, escutar e expressar, de algum modo, com palavras ou não, que desejamos unir nosso coração ao dela para, de algum modo aliviar a dor e assim ajudá-la, mesmo de forma breve, a dar um sentido àquilo que aterrorizava sua alma.

Vanessa nos pediu oração e nos deixou com lágrimas nos olhos.

O que aconteceu com aquele homem? Por que trair e deixar a mulher com quem iniciava uma vida e uma família? Descrever o modo como a Vanessa se vê diante da vida, é difícil demais! Discorrer sobre o quê, provavelmente, aconteceu com seu marido, é tarefa intrincada além da conta!

Por que os homens traem?

Eliana e eu percebemos que temas como traição e vida sexual, fazem parte da vida dos casais, embora não se fale sobre isso. Entre os casais cristãos, são temas que nem sempre estão presentes em suas conversas e também não se constituem pautas das reuniões de formação cristã e humana,caso participem de algum movimento de Igreja. Obviamente, isto é lamentável, e vamos tentar descobrir o porquê, através de uma abordagem bem simples, levando em conta a experiência, pesquisas, conversas no en passant  da vida.

Literalmente, saímos por aí perguntando a mulheres e homens: “por que os homens traem?” Contemporaneamente, lemos um pouco de tudo sobre a razão pela qual os homens traem e até vimos que se trata de uma realidade muito mais complexa do que pensávamos, pois, o conceito de traição, viaja entre pólos absurdamente diferentes um do outro, ao ponto de existir casais que admitem que aconteça uma relação sexual extraconjugal, contanto que não haja envolvimento afetivo, e isto não se constitui numa traição; e  casais que, à mínima percepção de que algo íntimo foi revelado a alguém, se estabelece uma traição das mais doídas. Assim, ficou mais difícil ainda a nossa pesquisa, pois o laboratório cresceu enormemente, e temíamos não ter habilidade para tratar de tudo isso de uma só vez.

Das pesquisas presenciais e através de nossas mídias sociais, descobrimos as mais variadas colocações!

Diz-se que  homens traem porque tem necessidade de conversar com alguém que os ouça com carinho e atenção. São homens que esperam ter à disposição quem os ouça com paciência, mesmo que não consiga compreender o mundo masculino; apenas ouvir. Especialistas atestam que as prostitutas possuem esta habilidade!

Diz-se que os homens traem porque também desejam se sentirem amados de forma afetuosa. São homens que convivem com mulheres que, equivocadamente, pensam que romantismo é um planeta feminino cultivado apenas pelos homens, e se colocam somente como destinatárias de um ambiente com romance.

Diz-se que os homens traem porque separam sexo de amor, e suas mulheres não compreendem que a psique masculina vai mesmo nesta direção. Resumindo: se as mulheres entendessem o quão faz bem uma relação sexual para o homem, mesmo quando se trata de encontro amoroso, as coisas seriam melhores em casa. Atenção: isto não quer dizer que não existe amor; quer dizer que a relação sexual possui, eventualmente, diferentes significados para o homem.

Diz-se  que os homens traem porque estão cansados das reclamações. Em nosso artigo “A maior reclamação das mulheres!” está claro quão mortífero é o dia a dia com uma mulher que reclama e que, pior ainda, sem perceber, desenvolveu um modo de se comportar e falar em tons de reclamação, solapando os alicerces de um lar cristão, como uma espécie de ferrugem que definha o mais rico e forte metal.

Diz-se que os homens traem por instinto e falta de domínio de si, assim desqualificando a pessoa-humana-homem e a destituindo da natural capacidade de conhecer-se, de escolher o que é melhor e crescer com liberdade.

Diz-se que falta caráter, vergonha na cara, que possui má índole!

Diz-se também que o homem, eterno menino, fica zanzando por aí, buscando um amor de mãe que deveria ter experimentado em casa, no colo, na amamentação… Em suma, não cresceu, amadureceu no afeto!

Para que nosso artigo não acabe se tornando algo sem um sentido claro, na medida em que caminhávamos, fomos salvos por nossa percepção sobre o tema que, à proporção que  íamos buscando compreender as razões da traição masculina, foi nos dirigindo para o fato de que os casais cristãos também não conversam sobre o que é a traição e suas veredas. Subentende-se que ninguém trai e ponto final, o que é um austero engano, não por conta da traição em si, mas por causa da maneira como um e outro conceituam e significam este feito, mas também pelo fato de que uma traição, como já dissemos, na versão de quem é traído, se manifesta desde modos grotescos até comportamentos simplórios, porém fortemente relevantes.

Percebemos também nós marinheiros de primeira viagem, que é preciso conversar buscando as trilhas dos significados de uma traição, mais do que enveredar-se em busca do seu significado literal.

Embora os homens sejam historicamente os maiores protagonistas deste fenômeno – pelo menos é o que ficou no imaginário universal –  e, por causa disso, tenhamos nos sentido mais encorajados a investigar a traição por este viés, os deixemos um instante de lado, para nos concentrar naquilo que esta estrada nos presenteou: um alerta, melhor ainda, uma chamada para que marido e mulher conversem sobre suas experiências de amor, buscando tornar claras as histórias, portanto os fatos que significaram “traição” e também aquelas experiências que, embora escondidas nos recantos da alma, assombram durante as noites da solidão que nem sempre compartilhamos.

Como resultado, quem sabe consigamos conversar sobre o medo que temos de sermos esquecidos, substituídos, comparados, desvalorizados, trocados por outro alguém… quem sabe revelamos a maior ferida da alma de cada um de nós: um medo danado da solidão que, quase sempre, está presente em todo sofrimento!

Com a graça de Deus, quem sabe a gente fale de  amor, do medo de amar e de acreditar no amor… E seremos curados!

Quem vai começar?

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